sábado, 27 de novembro de 2010

Consultor do varejo resume o que as mulheres querem

Pesquisas e exemplos interessantes se perdem no excesso de informação


                                          Mulher escolhe biscoitos em Kuala Lumpur (Malásia); livro 
                                                        elenca prioridades típicas das consumidoras, como limpeza 



"O Que as Mulheres Querem?", de Paco Underhill, é uma tentativa de atacar por vários ângulos essa pergunta difícil para a qual as próprias "estudadas" provavelmente não têm resposta definitiva. O resultado são algumas análises interessantes distribuídas, no entanto, ao longo de uma narrativa confusa que pode acabar perdendo a atenção do leitor. Underhill tornou-se conhecido como especialista da "ciência das compras" em meados da década de 90. Sua empresa de consultoria, a Envirosell, tem clientes de peso como Walmart, Adidas e McDonald's. Em tom bem-humorado, livros anteriores do autor ajudaram a alavancar sua fama. O best-seller "Vamos às Compras!" serviu como alerta para lojas e redes de varejo sobre que tipo de prática espanta clientes. "O Que as Mulheres Querem" tenta repetir o sucesso prometendo explorar o ângulo feminino da história. Logo no início, passa a mensagem: as mulheres têm abocanhado uma fatia importante de influência no mundo e os lojistas deveriam estar atentos a seus gostos.

OS QUATRO FATORES
Ele elenca quatro fatores que fazem diferença para as mulheres: limpeza, controle, segurança e consideração. A partir daí cada capítulo tenta explorar um tema especifico. Mas a narrativa é marcada por uma certa falta de foco. Há muitas passagens soltas -algumas interessantes, outras nem tanto- que acabam desviando a atenção do leitor daquilo que provavelmente espera do livro. Exemplo: no capítulo dedicado a discutir as preferências femininas em relação a banheiros, há uma passagem sobre uma boate de Hong Kong, onde "os homens urinam contra uma parede de vidro com vista para a cidade", e outros exemplos "subversivos". São casos curiosos, mas não aparecem diretamente conectados a "o que as mulheres querem". Entram na quota de curiosidades do que o autor viu em suas viagens pelo mundo. Há diversas passagens autobiográficas, que algumas vezes também ressaltam a falta de um fio condutor (tão importante para livros de "pronto consumo"). Alguns capítulos (particularmente o sobre cozinhas) são muito focados na realidade de países desenvolvidos. O autor reconhece que os exemplos de como foram desenvolvidas inúmeras linhas de produtos e aparatos a fim de tornar mais fácil a vida da mulher que trabalha fora e ainda tem de manter a casa em ordem talvez não se apliquem tanto a países emergentes onde "a maioria das mulheres de classe média conta com cozinheiras e empregadas domésticas". Apesar disso, Underhill apresenta sacadas interessantes. Por exemplo, como pesquisas da Envirosell identificaram que compras na internet têm um efeito de "terapia secundária" para mulheres (quem já não passou horas vendo "vitrines" na web?); ele dá dicas sobre o que torna um site atraente para o público feminino. O autor também defende a tese (que pode gerar discordância, mas pelo menos levanta um ponto que talvez mereça mais pesquisas) de que mulheres confiam mais em outras mulheres do que em homens. E que, portanto, seria bom que houvesse cada vez mais mulheres atendendo nas mais diversas lojas e até carregando malas e atendendo a pedidos nos hotéis. O livro mostra que Underhill tem muito a contar, mas talvez tenha tentado encher as pouco mais de 200 páginas com informação demais.

O QUE AS MULHERES QUEREM?
AUTOR Paco Underhill
TRADUÇÃO Leonardo Abramowicz
EDITORA Campus-Elsevier
QUANTO R$ 59,90 (228 págs.)


Fonte: Folha de São Paulo (mercado)