quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Sobre o ensinar e o aprender

Venho dedicando boa parte da minha vida a ensinar. Tempo suficiente para haver aprendido que essa tarefa é praticamente impossível

Por: Flavio Ferrari 

Venho dedicando boa parte da minha vida a ensinar. Tempo suficiente para haver aprendido que essa tarefa, o ensinar, é praticamente impossível. Descobri que o melhor que posso fazer é facilitar o aprendizado e ajudar a quem estiver interessado em aprender.


A posição de um professor na sala de aula é torturante. Naquele espaço fechado, muitas vezes desconfortável, o professor se vê diante de um grupo de pessoas que, embora animadas por uma causa comum, têm repertórios, estilos, ritmos e interesses distintos.

Boa parte dos alunos entra na sala de aula desejando estar em outro lugar. Há 100 anos, praticamente ninguém se importava com isso. O professor exigia silêncio e atenção, punindo os desobedientes com a "palmatória". Despejava o conteúdo de sua matéria no quadro-negro e cobrava o resultado nas provas mensaisou bimestrais.
Saladeaula

Hoje tudo está muito diferente, mas o processo "educacional" das escolas mudou pouco e, por isso, é ainda mais torturante. Em 2007, quando escrevia a minissérie "O Rastro do Butadieno" (com Ernesto Dias Jr.), em que um dos núcleos da trama acontecia no futuro, tive que imaginar um novo modelo de escola. As "Servant", como as batizei, seriam unidades dinâmicas de aprendizagem.
Nas "Servant" os alunos não são distribuídos por idades e nem precisam "passar de ano". Não existem professores, mas sim, orientadores. Alunos escolhem assuntos de seu interesse, aprendem com a experiência e com referências do "Speicher" (sotão, em alemão), uma espécie de biblioteca virtual com tutor holográfico, e compartilham seu conhecimento com os colegas. E, o que é mais interessante, nunca saem realmente da escola (se é que podemos chamar assim).
Ficam pelo tempo em que durar seu interesse (ou necessidade) e voltam quando quiserem aprender mais.
Embora seja fruto da ficção, a ideia segue me encantando. E, de algum modo, a tecnologia vem tornando essa visão cada vez mais plausível. As novas plataformas de comunicação, particularmente a Internet, tornaram possível o acesso assíncrono e personalizado dos conteúdos de interesse. Também facilitaram o compartilhamento de conhecimentos e experiências e a construção coletiva dos conteúdos.
Google, Youtube, Wikipedia, Facebook, blogs, sites especializados e fóruns de discussão, entre outros, vão formando uma rede anárquica facilitadora do aprendizado, que caminha para estar à disposição da maioria das pessoas.
As instituições de ensino, mesmo as mais tradicionais, já reconhecem o potencial destas ferramentas e o novo "espírito" que anima quem está desejando aprender.
O "ensino a distância" (EAD) vem ganhando notoriedade e respeito acadêmico. Obviamente, quando oferecido por instituições respeitadas, que garantem a "qualidade" dos conteúdos e "certificam" que o aluno assimilou uma parcela mínima aceitável do conhecimento disponibilizado, o EAD não tem a mesma característica anárquica. Ao contrário, segue processos que visam facilitar o aprendizado eficiente, mas que oferecem grande autonomia ao aluno na gestão do tempo e da forma.
Como coordenador do MBA em Inteligência Competitiva oferecido pelo IBOPE Educação tenho a oportunidade de desfrutar desse novo momento em que a educação abre espaço para o aprendizado e, na medida do possível, contribuir.
Está sendo uma experiência instigante, desafiadora e enriquecedora para este ex-educador
Fonte:  administradores.com.br