sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Lições da passarela



O que as escolas de samba têm a ensinar ao seu negócio




Ilustrações: Negreiros


Esqueça - pelo menos por agora - os gurus da administração. Se você estiver em busca de exemplos para gerir seu negócio, é hora de mirar-se no carnaval do Rio de Janeiro. "As escolas de samba preparam os desfiles da mesma forma com que as empresas lançam seus produtos", diz o professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo Tales Andreassi. Como em qualquer empreendimento bem sucedido, falta de profissionalismo não tem vez. "Não estamos na avenida a passeio", confirma o presidente do conselho de carnaval da Mangueira, Celso Rodrigues.
Se você também não entrou no mercado só por divertimento, confira três lições que a passarela tem a ensinar.

1>>>AVALIE SEU DESEMPENHO- Sem uma boa dose de autocrítica é impossível aprimorar um produto. Mal passa a quarta-feira de Cinzas e muitas escolas começam os preparativos para o carnaval seguinte com uma avaliação de desempenho. Todo ano, cerca de 20 integrantes da cúpula da Mangueira assistem ao vídeo do desfile poucos dias depois da divulgação dos resultados. "Preparamos relatórios com o que funcionou e o que temos de aprimorar", diz Rodrigues. Para o carnaval de 2009, por exemplo, a agremiação, depois de amargar o décimo lugar no ano passado, decidiu aumentar de cinco para nove a quantidade de ensaios de rua com o objetivo de melhorar a organização das alas.
"Mesmo se fôssemos campeões, teríamos que mudar para vencer outra vez", afirma ele. A estratégia vale para qualquer empreendedor, por mais bem sucedido que seja. Muita empresa derrapa justamente por se recusar a mexer no time que está ganhando. A Sony, por exemplo, foi por décadas líder do mercado de aparelhos de som de uso pessoal, graças à invenção do walkman, mas demorou para dar-se conta da revolução digital e hoje se esforça para recuperar o terreno perdido para o iPod, da Apple. Na tentativa de evitar tropeços semelhantes ao da multinacional, a diretoria da Mangueira analisa as apresentações da concorrência. Para o desfile de 2009, fisgou o carnavalesco Roberto Szaniecki, duas vezes vice-campeão pela adversária Grande Rio nos últimos três anos.

2>>>APOSTE NA INTERATIVIDADE - A Mangueira recebeu pela internet 200 e-mails com sugestões para o enredo de 2009. De um deles saiu o escolhido para este ano, baseado no livro O Povo Brasileiro, do antropólogo Darcy Ribeiro. Na quadra da Vila Isabel, um internauta sugeriu - e emplacou - a criação do banheiro "terceira opção", destinado a gays, transexuais e quem mais preferir evitar o sanitário masculino ou feminino. "Muitas vezes, vejo as sugestões dos internautas e penso: por que não pensamos nisso antes?", diz o presidente da escola, Wilson Vieira Alves. Os exemplos ilustram a importância da internet na captação das ideias do público. "É um canal tão ou mais essencial que qualquer outra ação de comunicação", diz o professor de marketing da ESPM João Matta. Ciente disso, Alves afirma fazer questão de responder a todos os e-mails recebidos, "por mais absurdos que sejam". E dá um exemplo: "Já me pediram até para trazer a Gisele Bündchen como rainha da bateria. Eu disse que também gostaria muito, mas seria impossível".
Com a prática, a escola supera a maioria das empresas, geralmente adeptas das respostas-padrão automáticas - isso quando não ignoram totalmente o cliente. Então, o que é possível aprender com os sambistas? "Quem personaliza os e-mails tende a ganhar a fidelidade do consumidor", afirma Matta. Na visão do especialista, o site da Vila Isabel também ganha pontos ao dizer "Fale com o presidente", em vez do tradicional "Fale conosco", comum no mundo corporativo. Na mesma linha, a Grande Rio tem o "Fale com o carnavalesco". A lição: quanto mais pessoal a comunicação com o público, melhor.
3>>>AFINE A COMUNICAÇÃO INTERNA- Durante os desfiles da Grande Rio, o vice-presidente, Milton Perácio, e o diretor geral de harmonia, Dudu Azevedo, trocam informações e dão ordem por rádio a seis chefes de setor com o objetivo de impedir que a escola perca pontos por deslizes, como a superação do tempo máximo permitido no sambódromo ou a formação de "buracos" nas alas. Nas empresas, a lógica é a mesma. Por mais bem planejado que seja, dificilmente um projeto dá certo sem comunicação afinada entre a equipe. "A gente tem que se falar sempre para não perder a visão do todo", diz o presidente da agremiação, Helinho de Oliveira.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios